ROSELY NARLOCH

ROSELY NARLOCH

domingo, 20 de setembro de 2009

PROJETO CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS

PROJETO CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: UMA INICIATIVA DA BIBLIOTECA DO CDCC-USP

Temos a leitura como fator indispensável na vida cotidiana dos indivíduos. De acordo com Boriollo (2002) o ensino da leitura e escrita há tempos ultrapassou a idéia de treino mecânico de letras ou de preparação para um leitor futuro. A leitura e a escrita têm na educação uma função social com ênfase na comunicação entre as pessoas. Portanto, a criança deve ter contato com diferentes tipos de textos antes de aprender a ler e escrever, ou melhor, desde o seu nascimento.
Para tanto cabe às bibliotecas desenvolver e criar estratégias que atendam às atuais premissas referentes ao desenvolvimento da capacidade de leitura entre as crianças no contexto escolar.
Diante disso, criou-se o projeto Contação de histórias que tem por objetivo estimular a leitura entre as crianças através da contação de histórias.
Mas, o que é contar histórias? Qual a sua importância para o desenvolvimento educacional das crianças? Para que contá-las?
Contar histórias é brincar com as palavras, sonhos, imaginação, expressões, sentimentos... É deixar, por alguns instantes, de ser você mesmo para assumir um pouco da vida dos personagens. Contar histórias é se entregar aos ouvintes: imaginar como conquistá-los, tentar adivinhar como cada palavra, gesto, expressão repercutirá no interior de cada um.
Segundo Dohme (2000) as histórias são excelentes ferramentas de trabalho na tarefa de educar, pois as crianças gostam muito e se envolvem com a narração. Além disso, existe uma variedade de temas que, para aplicá-las não requer recursos materiais inacessíveis.
Para os autores (Dinorah, 1995; Coelho, 1986; Abramovich, 1989) contar histórias é uma arte, no entanto, não deve ser encarada como um dom nato e inatingível pelo educador. Todos temos um pouco de contador de histórias. Passamos a vida narrando os fatos e acontecimentos do nosso cotidiano.
E para que contar histórias?
Contamos histórias para tocar o ouvinte. Para convidá-lo a conhecer o mundo. Podemos ir a tantos lugares conhecer tantas pessoas e coisas diferentes, descobrir tantos sentimentos. Mas o que queremos mesmo é conduzir o ouvinte a conhecer o seu próprio mundo, o mundo interno.
Em se tratando de um desenvolvimento interno das crianças as histórias desempenham papéis importantes e Dohme (2000, p.19) destaca alguns aspectos relevantes, tais como:
- Caráter: as histórias com heróis, conteúdos que proporcionam lições de vida, fábulas em que o bem prevalece sobre o mal. Por meio das histórias, principalmente, os meninos se defrontam com situações fictícias e com isso adquirem vivência e referências para montar os seus próprios valores;
- Raciocínio: as histórias mais elaboradas, os enredos intrigantes, agitam o raciocínio da criança.
- Imaginação: o exercício da imaginação traz grande proveito às crianças, porque atende a uma necessidade muito grande que elas têm de imaginar. As fantasias não são somente um passatempo; elas ajudam na formação da personalidade na medida em que possibilitam fazer conjecturas, combinações, visualizações como tal coisa seria “desta” ou de “outra” forma.
- Criatividade: uma vez que a criatividade é diretamente proporcional à quantidade de referências que cada um possui, quanto mais “viagens” a imaginação fizer, tanto mais aumentará o “arquivo referencial” e, conseqüentemente, a criatividade.
- Senso Crítico: as histórias atuam como ferramentas de grande valia na construção desse senso crítico, porque por meio delas os alunos tomam conhecimento de situações alheias à sua realidade, uma vez que podem “navegar” em diferentes culturas, classes sociais, raças e costumes.
- Disciplina: é entendida como aceita e praticada espontaneamente pela criança e não como algo imposto inquestionavelmente pelo educador. No momento que trabalhamos com algo que a criança realmente gosta, que sente que foi preparada com carinho para ela as chances de se ter uma postura atenta e participativa aumentam muito.

É bom saber que uma história bem contada surpreende as pessoas, tem o poder de quebrar a rotina e trazer a magia à tona; estimula a criatividade, rompe barreiras, desvenda mistérios, abre portas e pode ser tão especial e marcante para o ouvinte que chega a influenciar na sua maneira de pensar e agir.
Além disso, as histórias nos convidam a entrarmos num mundo que só a leitura nos proporciona, um mundo de conhecimento, de informação, de curiosidades.
Tendo em vista todos esses aspectos teóricos e encarando a importância da atividade de Contação de histórias, é que a Universidade de São Paulo vem mantendo um estagiário, contador de histórias,  para atuar nessa função.
O projeto Contação de histórias da Biblioteca do CDCC/USP iniciou suas atividades em Janeiro de 2002 e até o presente momento, foram atendidas oitenta instituições, dentre elas, escolas públicas e particulares, bibliotecas, empresas, universidades, totalizando 26.000 crianças.Sua atuação vem tendo um grande impacto na cidade de São Carlos e região, pois está sendo requisitado para comparecer em eventos diversos tais como: simpósios de educação e inaugurações de bibliotecas escolares nos quais temos a oportunidade de ressaltar a importância de contar histórias.
A proposta é trabalhar histórias sobre os diversos tipos de preconceitos, o meio ambiente e os contos de fadas em sua essência. Adequamos as histórias de acordo com o público em questão. Há, por parte dos educadores, um interesse em se trabalhar temas específicos diante de um comportamento apresentado na comunidade escolar.
Contudo, acreditamos que a contação de histórias é um convite à leitura. Tal fato poderá ser evidenciado nos relatos abaixo, tecidos pelas crianças no momento das atividades em contexto escolar.
 “Sem histórias eu não vou ficar feliz” (D., 6 anos);
“As histórias são muito legais, por isso eu não quero que elas vão embora. Sem as histórias eu não consigo fazer lição”. (D., 6 anos);
“Quando eu crescer quero ser contador de histórias e gostaria também de escrever um livro”. (l., 4 anos);
“Tia, você me promete que quando voltar à minha escola você traz todos os livros das histórias que você contou?”(E., 8 anos);
“Tia, estou aqui na biblioteca porque quero ver aquele livro da história que você contou na minha escola.” ( M., 10 anos);
“Eu tenho esse livro, mas nunca li. Quando chegar em casa vou ler.” (A., 9 anos);

No desenvolvimento do Projeto percebe-se que as crianças se interessam em ter acesso à obra original. Esse comportamento demonstra que ouvir histórias realmente incentiva a leitura e, com isso, podemos fazer da biblioteca um ambiente mediador dessa proposta.
Observou-se também que as histórias são excelentes recursos para despertar nas crianças a criatividade, imaginação, fluência e talento, os quais foram evidenciados pelos professores nos trabalhos desenvolvidos em sala de aula.
Portanto, acreditamos na continuidade dessa proposta encarando-a como meio de incentivar a leitura entre as crianças de nossa cidade e região.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRAMOVICH, F. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipone, 1989. 174 p.
BORIOLLO, B. de C. Relato das atividades de contação de histórias no Centro de Convivência Infantil-CCI-USP. São Carlos, 2002.
COELHO, N.N. A literatura infantil. 3. ed. São Paulo: Quíron, 1984. 197 p.
DINORAH, M. O livro infantil e a formação do leitor. Petrópolis: Vozes, 1996. 75
DOHME, V. Técnicas de contar histórias: um guia para desenvolver as suas habilidades e obter sucesso na apresentação de uma história. 3. ed. São Paulo: Informal, 2000. 223 p.

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