domingo, 12 de setembro de 2010
Sucos: Saúde e Sabor
Sucos: Saúde e Sabor
J. R. Araújo
As frutas são as verdadeiras dádivas do reino vegetal. Deliciosas e nutritivas, as frutas devem ter presença destacada em qualquer dieta saudável. A melhor maneira de consumir frutas é comê-las frescas, de preferência recém colhidas, mas nem sempre isso é possível, especialmente para os que vivem em centros urbanos. Entre esses infelizmente existe um grande número que não têm o hábito do consumo de frutas. Para sanar essa deficiência, é sempre possível começar de algum ponto. A melhor maneira de se começar é pelo uso dos sucos que não tendo todas as vantagens do uso das frutas in natura (como a ingestão de fibras por exemplo), pode, não obstante, fornecer todos seus valiosos nutrientes, como as vitaminas, as proteínas e os sais minerais, bem como outras substâncias benéficas ao organismo.
Sucos de frutas são bebidas deliciosas com alto teor de vitaminas A e C, beta-caroteno e bioflavonóides.
Suco de Manga - fonte de vitaminas A e C
Vitamina A - também conhecida como Retinol, exerce importante papel no crescimento e desenvolvimento do corpo, especialmente a visão, membranas das mucosas, sistemas imunológico e reprodutor, o saudável desenvolvimento da pele, cabelos e promove a saúde geral do corpo.
Vitamina C - é uma substância solúvel em água, também conhecida como Ácido Ascórbico, encontrada em todas as frutas. Presente em concentrações privilegiadas nas frutas cítricas (laranjas, limões e tangerinas), caju, abacaxi, acerola e goiaba. É uma das substâncias mais essenciais ao organismo, ajudando ao bom funcionamento do sistema imunológico, facilitando a absorção do ferro, cálcio e potássio. Muito importante na formação do colágeno, que compõe os ossos, cartilagens, dentes e vasos sanguíneos. A vitamina C é responsável pela regulagem de quase todas as funções vitais.
Melancia (Cucurbita citrullus) - fonte de Beta
caroteno e Bioflavonóides
Beta-caroteno - é o mais conhecido dos carotenóides, as substâncias avermelhadas, alaranjadas ou amarelas que dão essas cores às frutas e vegetais. Beta - caroteno aumenta a eficiência do sistema imunológico, é um poderoso anti-oxidante e apresenta resultados excelentes como preventivo de certos tipos de câncer, como os de mamas, intestinos, próstata, fígado e bexiga. Pode ser armazenada no fígado e transformada em Vitamina A. Como anti-oxidante, combate os radicais livres que são moléculas instáveis, formados como resíduos da ação do organismo ao queimar o oxigênio no processo da respiração e que causam danos às células dos diferentes tecidos do corpo. Todas as frutas amareladas contêm significativas proporções de beta - caroteno, como as mangas (Mangifera indica) e o mamão (Carica papaya). As cenouras (Daucus carota) são especialmente ricas nessa substância. Carência de Beta - caroteno está associada com Síndrome da Fadiga Crônica e a ocorrência de catarata. Beta - caroteno, indicam as pesquisas, combate a ação danosa do colesterol - LDL sobre as paredes dos vasos sanguíneos e previne a ocorrência de acidentes cárdio-vasculares e/ou cerebral-vasculares.
Bioflavonóides - são pigmentos naturais, encontrados nas frutas e vegetais e parecem trazer inúmeros benefícios à saúde. Até o momento são conhecidos mais de 800 bioflavonóides também denominados Vitamina P. Ajudam a prevenir e combater o câncer, são antibióticos naturais e anti-oxidantes. Como os bioflavonóides e a vitamina C estão presentes nos mesmos alimentos, acredita-se que ambos potencializem os efeitos um do outro.
Goiaba - uma fruta bastante nutritiva
Os sucos de frutas também são ricos em minerais essenciais como o ferro, fósforo, sódio, potássio, silício, manganês, magnésio e muitos outros.
Além de todas as vantagens nutricionais, os sucos são refrescantes, hidratantes e deliciosos. Nosso país, de clima tropical, é bem dotado de uma variedade de frutas aqui aclimatadas, proveniente de outros países, mas também de frutos da flora silvestre local.
Para se fazer um suco é necessário o mínimo de processamento. Deve-se lavar bem as frutas, pois algumas recebem dosagens perigosas de inseticidas e fungicidas nos campos e pomares de produção. Não é suficiente lavá-las rapidamente em água corrente, mas devemos fazer uma limpeza criteriosa, lavando cada fruta individual com uma esponja e muita água. Devemos retirar as cascas, sementes e levar as frutas ao processador ou ao liquidificador. Fazer o suco no processador permite a ingestão do suco puro, sem qualquer fibra proveniente da polpa. No liquidificador temos a garantia de fibras; as frutas devem ser batidas com água, e o suco deve ser passado num coador ou peneira de malha fina. O suco não coado contém mais fibras. Pode-se beber o suco ao natural ou com o adoçante da escolha de cada um, seja o artificial, açúcar ou mel. À temperatura ambiente, frio ou bem gelado, depende do clima ou condições ambientais, o suco de fruta é desintoxicante, refrescante, relaxante e muito saboroso.
Quem pode ficar indiferente à delícia refrescante de um suco de limão (Citrus limonum), tangerina (Citrus nobilis) ou laranja (Citrus sinensis) bem gelados num dia quente e escaldante de verão ?
Como não apreciar a suavidade de um suco de carambola (Averrhoa carambola) ?
Ao sabor exótico do caju (Anacardium ocidentalis), à doçura da goiaba (Psidium guayava) ou à delícia celestial de um suco de sapoti (Achras sapota) ?
O suco do maracujá (Passiflora macrocarpa) tem propriedades calmantes, além de ser uma iguaria de sabor forte e inesquecível. O suco de uvas escuras (Vitis vinifera) contém uma alta concentração de flavonóides. O abacaxi (Ananas sativus) tem propriedades diuréticas e é um poderoso vermífugo.
A família botânica das Rosáceas, nos brinda com uma variedade de frutas deliciosas, muito apreciadas pelo sabor, fácil digestão e propriedades medicinais. São exemplos a nêspera (Eriobotrya japonica), a ameixa (Prunus domestica), pêssego (Prunus persica), pêra (Pyrus communis) e, considerada a rainha das frutas, a maçã (Pyrus malus). Todas contêm potássio, fósforo, sódio, magnésio, enxofre, cálcio, silício e ferro.Depurativas do sangue, devido à presença do ácido málico, auxiliam na eliminação dos detritos provenientes das diferentes ações do metabolismo. O suco de maçã combate a difteria, as febres, os cálculos do fígado e dos rins, as inflamações da bexiga e do aparelho urinário. A Pêra apresenta resultados significativos no combate a hipertensão arterial.
suco de maçãs jenipapo - frutas e suco
O jenipapo é a fruta do jenipapeiro (Genipa americana, L.) árvore de grande porte, cuja fruta é muito utilizada na medicina doméstica, principalmente como fonte de ferro, devido à grande quantidade de sais desse mineral na polpa da fruta. Por esse motivo é muito empregada (in natura ou suco) no combate à anemia, sendo também utilizada nos casos de asma, hidropícia, cataratas, úlceras e muitas outras enfermidades. Muito empregada na fabricação caseira de compotas e vinhos ou licor, a fruta de sabor agridoce pode ser consumida in natura ou na forma de um delicioso suco. Não obstante o suco ter um sabor forte e delicioso, seu cheiro não parece muito agradável para algumas pessoas, especialmente àquelas que estão experimentando o suco pela primeira vez. Entretanto, podemos assegurar, o cheiro nada tem a ver com o delicioso sabor do suco dessa fruta muito apreciada desde há muito pelos índios e pelos portugueses que aqui chegaram.
Algumas frutas de tamanho pequeno dão sucos saborosíssimos, como é o caso da pitanga (Eugenia uniflora), acerola (Malpighia glabra), cajá (Spondias monbin), caqui (Diospyros kaky) e mangaba (Hancornia speciosa).
Acerola Pitanga Cajá Mangaba
Dentre os sucos mais saborosos, de aparência leitosa, estão os fornecidos pelas Anonáceas, família botânica que compreende a graviola (Annona muricato), pinha (Annona squamosa), araticum (Annona classiflora), e a novíssima atemóia (Annona cherimola X Annona squamosa) que é um cruzamento da cherimóia com a pinha ou fruta-do-conde.
Caqui Pinha ou Fruta-do-conde - frutas e suco
Sempre que possível, devemos fazer sucos das frutas frescas ou da polpa congelada de frutas. Os sucos enlatados e engarrafados, devido ao processo de pasteurização perdem muitos dos nutrientes, como as vitaminas A e C, carotenóides e bioflavonóides, além de terem aditivos químicos e conservantes diversos.
De todas as bebidas que se pode fazer com as frutas, em uma não há qualquer necessidade de nossa interferência. Já vem pronta ! Falamos do suco de côco, ou melhor, da água de côco (Cocos nucifera). Existe o côco da casca verde, de sabor doce, e o da casca amarelada de sabor menos doce e mais usado na medicina popular. Muito nutritiva, a água do côco contém altos teores de potássio, fósforo, enxofre, ferro, magnésio, sódio, cálcio, cobre e muitos outros sais minerais.
O côco é um poderoso hidratante de uso oral. É diurético e um excelente alimento. O consumo da água e da polpa contém todos os nutrientes adequados à alimentação de uma pessoa adulta, podendo ser usado indefinidamente. O leite extraído da polpa pode substituir o leite materno e a água de côco verde, quando a fruta ainda não produziu qualquer traço de polpa, pode substituir o plasma sanguíneo nas transfusões de emergência, uso esse que se tornou comum pelas tropas americanas durante a guerra da Coréia. Água de côco, como substituto de sangue, é um doador universal. Utilizada para distúrbios dos intestinos, problemas gástricos, vermífugo. Excelente no tratamento da cólera por causa da presença da salina e albumina. O coqueiro é muito abundante nas praias do Nordeste brasileiro. Como bebida não tem igual. Fria ou gelada é a bebida mais saborosa que a natureza pode produzir.
Como dissemos antes, o ideal é consumir a fruta in natura, embora os sucos de frutas, por envolverem o mínimo de processamento também retenham os benefícios do consumo de frutas, salvo a ausência da polpa, rica em fibras. Pelo teor nutritivo, pela facilidade de absorção pelo organismo, os sucos são adequados para crianças, idosos, pessoas convalescentes ou saudáveis, sendo pois ótimos tônicos. Por necessidade ou por prazer, o certo é que o consumo de frutas ou de seus sucos constitui uma maneira fácil e deliciosa de obtermos saúde.
Recife,
21/042006
Bibliografia
Alfons Balbach - As Frutas na Medicina Doméstica -
Edições "A Edificação do Lar" - 21ª Edição
Alimentos Saudáveis, Alimentos Perigosos -
Reader's Digest do Brasil Ltda, 1998
Dr. David Heber - A Dieta Natural das Cores -
Seleções Reader's Digest - Maio 2003
Créditos
Foto dos côcos - royalty free image
www.fotosearch.com
Foto acerolas - www.emater-rondonia.com.br
Foto pitanga - www.correios.com.br
Foto cajás - www.virtual.epm.br
Foto mangaba - gelopolpas.com.br
Todas as outras fotos J. R. Araújo
Copyright 2005 / 2006
www.ideariumperpetuo.com
Borboletas
Borboletas: as cores da leveza
J. R. Araújo
As borboletas constituem um importante grupo da família dos insetos e pertencem à ordem dos Lepidópteros, termo que significa literalmente “asas em escamas”. As escamas são coloridas e sobrepostas, formando desenhos intricados de rara beleza. As cores podem ser fortes, suaves, metálicas ou iridescentes, formadas por diferentes pigmentos e micro-texturas que, devido aos efeitos de refração e difração da luz incidente, conferem nuances das mais variadas tonalidades nas asas desse lindo animal.
Como os insetos, têm o esqueleto por fora do corpo, chamado exoesqueleto, que não apenas forma a estrutura de suporte, mas também revestem todo o corpo do animal, impedindo a perda de água, protegendo-as da desidratação total e das pressões ambientais.
Nas regiões tropicais, encontramos o maior número de espécies e as maiores e mais belas borboletas e mariposas, visto que o clima quente, a umidade e a grande variedade de plantas oferecem a elas condições ambientais favoráveis e alimento em abundância.
As borboletas variam em tamanho desde as mais minúsculas com cerca de 3 milímetros de tamanho Phyllocnistis spp até as maiores com pouco mais de 30 centímetros Attacus Atlas ou a Ornithoptera alexandrae com 28 cm de uma extremidade a outra de suas asas.
Como distinguir entre as borboletas e mariposas ?
Do ponto de vista técnico não há diferenças entre ambas. Podemos, entretanto, verificar algumas diferenças estruturais, bem como nos hábitos desses lepidópteros. As diferenças são as seguintes:
Antenas - as borboletas geralmente têm as antenas mais longas, de aparência lisa, tendo as extremidades arredondadas, enquanto as mariposas têm as antenas mais curtas, grossas e de aparência peluda.
Corpo - as borboletas têm o corpo mais delgado, as mariposas os têm atarracados.
Asas - quando em repouso, as borboletas guardam suas asas dispostas para cima, juntas, enquanto as mariposas dispõem suas asas coladas ao longo do corpo.
Colorido das asas - as borboletas tendem a ter mais colorido nas asas. Algumas exceções são observadas.
Hábitos - as borboletas são em sua maioria diuturnas, as mariposas são de hábitos noturnos.
Velocidade de vôo - as borboletas podem voar até 20 km/h, enquanto as mariposas podem voar até 40 km/h. A maior velocidade fica por conta da Euschemon ssp que pode atingir 60 km/h.
Estima-se que em todo o mundo, existam aproximadamente 24.000 espécies de borboletas e 140.000 espécies de mariposas. A região tropical registra a maior densidade desses insetos, devido às condições propícias que oferece, com uma grande variedade de plantas, enquanto nenhuma ocorrência é verificada na Antártida.
Além de ser um animal notável, pela beleza e elegância, as borboletas diurnas são muito importantes como bioindicadores. São fáceis de serem monitoradas nas suas diferentes e bem definidas fases vitais. As borboletas são por demais sensíveis às mudanças negativas em qualquer dos fatores ambientais dos quais dependam. Alimentam-se de plantas específicas e uma abundância de borboletas de diferentes espécies em uma área ou região indica existir grande diversidade de plantas neste ecosistema, Uma brusca mudança ambiental afeta quase que de imediato esses animais e o desenvolvimento regular de toda uma população de borboletas, ao longo dos anos, indica que o meio ambiente está funcionando regularmente nesse período.
Ciclo de Vida
A transformação da freqüentemente feia e bizarra lagarta em uma elegante borboleta é realmente um dos milagres executados pela Natureza.
No ciclo de vida, ss borboletas processam uma metamorfose completa em quatro fases bem definidas e bastante distintas como ovos, larvas, crisálidas e adultas.
Ovos de borboleta
Ovos - após o acasalamento, que pode durar até cerca de uma hora, a fêmea procura as plantas adequadas para a postura dos ovos. Nesta tarefa, conta com uma peculiar habilidade das patas, que pode sentir o sabor das folhas das plantas, a adequação nutritiva e a ausência de fitotoxinas, pois essas folhas serão parte do cardápio exclusivo das larvas. Não se sabe o número exato de ovos que uma fêmea pode depositar na parte superior das folhas das plantas escolhidas, mas a postura pode decorrer em algumas horas ou em muitos dias, e os ovos variam em tamanho, forma e coloração de acordo com a espécie.
Lagarta / larva da borboleta
Larvas – ao chegar o momento de saírem dos ovos, os lepidópteros assumem uma forma larval, as conhecidas lagartas. Estas abrem caminho, comendo as cascas dos ovos em que estavam contidas, preparam uma espécie de ninho na parte inferior de alguma folha e de imediato começam a comer as partes vegetais da planta em que se encontram, cortando-as e mastigando-as com suas poderosas mandíbulas. Devido a um determinado hormônio que segregam, as lagartas não param de comer; algumas comem durante o dia inteiro, outras o fazem durante toda a noite. No período destinado ao descanso, digestão e absorção dos nutrientes, voltam para esse ninho construído, sob a folha que, curiosamente, evitam comer. São comedoras vorazes, quase que insaciáveis, pois precisam se alimentar dos nutrientes necessários para o período de hibernação de sua próxima fase de vida e para isso necessitam armazenar bastante energia. À medida que a produção desse hormônio diminui, as lagartas consomem cada vez menos folhas. Quando param de comer por completo, estão preparadas para a nova fase.
Crisálida
Crisálidas – também denominadas pupas, é o estágio seguinte, quando a larva procura a parte inferior de uma folha ou um galho mais resistente onde possa se enrolar em uma espécie de capa protetora e se transformar por completo. Algumas mariposas, a partir de uma glândula próxima da boca, produzem uma teia de material salivar que em contato com o ar adquire consistência de fios muito resistentes. Tecidos em torno da pupa para aumentar sua proteção, essa capa é denominada casulo. Algumas espécies são cultivadas para que esses fios sejam utilizados na indústria têxtil, a produção da seda. Os fios de seda são os fios que compõem o casulo dessas mariposas. Desde a antiguidade, no Japão e China, a mariposa parda Bombyx mori (acima) é utilizada na indústria da seda que é uma fibra natural de proteína, composta de fibrina. A sericina é uma goma protéica responsável pela união das fibrinas que compõem os fios de seda. Os filamentos da seda são resistentes e podem ter comprimentos que variam entre 300 a 900 metros! A produção da seda, entretanto, envolve a aniquilação das crisálidas contidas nos casulos que são colocados, ainda vivas, em água quase fervente no processo de obtenção dos fios de seda, que depois de tingidos são utilizados na fabricação de tecidos.
Adultas – após a metamorfose completa, as borboletas adultas eclodem dos casulos e esperam horas, para que as asas úmidas e encolhidas endureçam para se adequarem ao vôo. A partir daí, iniciam a fase de acasalamento. Os machos são visto, com freqüência, rondando as fêmeas recém saídas da fase de crisálida, antes mesmo que elas possam adquirir a plena capacidade de voar. Após a fecundação, as fêmeas procuram depositar os ovos na parte superior das folhas de plantas hospedeiras adequadas ao desenvolvimento das lagartas. Para garantir a perpetuação da espécie, as borboletas são dotadas de extraordinária sensibilidade. Segundo experimentos, podem enxergar as cores com maior sensibilidade ao vermelho, verde e amarelo, e podem sentir o sabor das folhas com as patas, o que facilita na procura de folhas de plantas adequados à oviposição.
Estudos recentes indicam, também, que as borboletas não têm um padrão de vôo aleatório. A partir de micro-transmissores, pesando apenas 12 miligramas, colocados nos corpos desses delicados insetos, cientistas britânicos puderam monitorar e vôo de várias borboletas. Concluíram que existem basicamente dois tipos de vôo. O vôo rápido, em linha reta, no qual a borboleta se deslocam em velocidade nas rotas migratórias, e o vôo lento, em voltas e círculos, com o propósito de encontrar alimentos, locais para depósito dos ovos e futura hibernação das pupas.
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Os lepidópteros exploram diferentes recursos alimentares durante seu ciclo de vida. As larvas de borboletas são tipicamente folívoras, enquanto os adultos consomem alimentos fluídos, como o néctar que extraem das flores ou o suco dos frutos maduros que caem das árvores.
Há que se atentar para o fato de que, no processo evolutivo, a associação de determinados grupos de insetos (gêneros, tribos, subfamílias etc.) obedece uma inter-dependência bastante rígida e exclusiva (famílias, gêneros, espécies etc.) com as plantas hospedeiras que compõem sua alimentação. Além disso, os micro-habitats dessas plantas fornecem um lugar seguro para a reprodução e subsistência dos indivíduos e preservação de sua espécie. A interdependência das espécies de insetos (como polinizadores) e plantas (como fonte de alimento) é tão sofisticada e exclusiva que o desaparecimento de um grupo compromete irremediavelmente a existência do outro.
Para ilustrar a importância desses insetos no meio ambiente e exemplificar o que dissemos acima, temos o mais famoso dos casos de previsão da existência de uma espécie na Entomologia.
Angraecum Sesquipedale
com seu rostrellum (tubo)
curvado para cima
A mariposa Esfinge de Morgan, originária de Madagascar, tem uma tromba (probóscides) com cerca de 31 a 36 centímetros de comprimento que a permite coletar alimentos (néctar) de um tipo de orquídea que foi estudada por Charles Darwin. Em sua obra, “On the Various Contrivances by Which British and Foreign Orchids are Fertilized by Insects”, publicada em 1862, Charles Darwin predisse: “ . . . è surpreendente que qualquer inseto seja capaz de alcançar o néctar . . . Mas em Madagascar deve existir mariposas com probóscides com uma extensão de 25 a 28 centímetros . . . As políneas não poderiam ser coletadas a menos que uma imensa mariposa, com um probóscides maravilhosamente longo tentasse sugar a última gota. Se essa mariposa viesse a se tornar extinta em Madagascar, certamente que o Angraecum também seria extinto . . .”
Xanthopan coletando néctar
Quarenta anos depois, em 1903, Walter Rothschild e Karl Jordan descobriram e descreveram essa mariposa e deram-lhe o nome de Xanthopan morgani predicta, que salienta o importante fato de ter tido sua existência predita pelo famoso naturalista inglês, ao estudar a orquídea Angraecum sesquipedale. Essa orquídea produz e armazena néctar no fundo de um longo tubo (rostrellum). Ao tentar coletar esse doce líquido, a mariposa introduz sua longa espirotromba (probóscides) neste tubo e, ao fazê-lo, coleta as políneas que estão estrategicamente dispostas, e que serão levadas e depositadas em outra orquídea, polinizando-a. Assim, para que essa orquídea com um tubo (rostrellum) de mais de 30 cm possa existir é necessário que um polinizador equipado com uma tromba de igual dimensão também exista. Foi exatamente isso que a Xanthopan morgani predicta veio comprovar!
Angraecum eburneum
Em 1991, Gene Kritsky, o famoso entomologista americano, fez outra previsão com referência a uma outra orquídea do mesmo gênero, a Angraecum eburneum variedade longicalcar, que tem um tubo ainda maior que a Angraecum sesquipedale. Desde então, Kritsky e outros cientistas dedicam-se a encontrar essa mariposa, ainda desconhecida, equipada com uma tromba medindo aproximadamente 40 cm e responsável pela polinização dessa orquídea.
O Brasil, por sua dimensão e pelo clima tropical, tem uma quantidade e variedade de grandes e belas espécies. Entre as famílias de borboletas de maior importância, contamos com os Ninfalídeos, Papilionídeos, Pierídeos, Licenídeos, e Hesperiídeos, dentre outros. Abaixo temos representantes dessas famílias.
Nimphalídeos Papillionídeos Pierídeos Licenídeos Hesperiídeos
A agricultura intensiva, o uso de fertilizantes, pesticidas e inseticidas em geral, está contribuindo para o desaparecimento de muitas espécies de borboletas. Pior que tudo, é a degradação do meio ambiente e o desmatamento indiscriminado, o avanço de urbanização de áreas onde antes havia parques e vegetação apropriada, com plantas integrantes da dieta das borboletas nas diferentes fases do seu ciclo de vida. A substituição, nos jardins das residências e parques públicos, de plantas nativas, por espécies estranhas à flora local também contribui para o problema.
Existem muitas espécies ainda a serem descobertas. Com as alterações do meio-ambiente ou mesmo a destruição total de seus habitats, certamente jamais serão conhecidas. Muitas espécies são caçadas à exaustão, devido a sua beleza, para comporem peças artesanais de, no mais das vezes, gosto duvidoso, ou, ainda, para integrarem coleções particulares desprovidas de qualquer interesse ou conteúdo científico.
Muitas espécies nativas de borboletas estão em risco de extinção (em muitos países, elas são protegidas por lei). Ao final deste artigo, divulgamos o site oficial do Ministério do Meio-ambiente, onde estão listadas as espécies que correm risco de extinção.
NUNCA tente pegar uma borboleta com as mãos, pois suas asas por demais delicadas perdem as escamas que saem como se fossem um finíssimo pó ou podem se romper facilmente condenando-a a não mais voar. Não tocá-las, reflete mais um gesto pessoal de gentileza que de consciência ecológica. As borboletas dependem do vôo para concluir seu ciclo vital.
Assim como imaginam os poetas, as borboletas são muito delicadas. Delicadas, encantadoras e coloridas. Quando em vôo errante, parecem brincar entre as flores dos jardins como poetizou Vinícius de Moraes em seu poema As Borboletas - "brincam na luz as belas borboletas". Ao brincarem na luz, parecem cores esvoaçantes, flores que voam ou luzes aladas . . . são por demais delicadas, gentis e sua metamorfose é um inefável mistério. Ninguém consegue ficar indiferente, ao deparar-se, em um jardim, com essa maravilhosa combinação - flores e borboletas! Uma associação perfeita . . . maravilhosa!
Há algo de verdadeiramente mágico, na transformação de uma lagarta em uma bela borboleta. Mais que uma mudança, sugere mesmo uma transmutação. Algo bem profundo. Ao se fecharem em si, como crisálida, fecham-se para o mundo e isso permite toda essa transformação, que vem de dentro para a superfície. Elas bem guardam isso, como íntimo segredo. Dentro do casulo, acontece esse momento mágico, sutil que explode em rara beleza,´pois, entre as belezas e mistérios dos jardins, quem quer que tenha imaginado as fadas certamente se inspirou nas delicadas e graciosas borboletas.
Recife,
05/02/2006
Bibliografia e sites pesquisados
Borboletas - Livro do Naturalista - Luíz Soledade Otero - FAE, Fundação de Assistência ao Estudante
Ministério da Educação, Rio de Janeiro, 1986
http://www.tagis.net - Tagis - Centro de Conservação das Borboletas de Portugal
Boletim Tagis tagis - Nº 0 , Março de 2004
ª importância das borboletas como bioindicadores"
http://www.abrasp.org.br - Artigo sobre o padrão de vôo das borboletas
http://www.educacaopublica.rj.gov.br - Contém o artigo "Folívoros exemplares: larvas de borboletas"
do biólogo Felipe A. P. L. Costa
http://animalplanetbrasil.com
Lista de Borboletas nacionais ameaçadas de extinção no site -
http://www.mma.gov.br/port/sbf/fauna/ordem4l.html
Créditos pelas imagens
http://www.jardin-botanique-lyon.com - foto do Angraecum erburneo
http://www.larsen-twins.dk - foto do Angracum sesquipedade
http://www.criptozoologia.org - foto da Xanthopan morgani predicta com o Angraecum
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