sábado, 5 de setembro de 2009
Cantigas de roda na sala de aula
As histórias infantis e as cantigas de roda, inclusive o Atirei o pau no gato, fazem muito mais por uma criança do que apenas entreter
fonte: Jornal do Brasil (08.06.2009)
O desenvolvimento da fala, e consequentemente da interpretação e produção de textos, evoluem no compasso dos diálogos com os pais e das brincadeiras verbais da infância. É o que mostra uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) com crianças do ensino fundamental. O estudo é endossado pela presidente do Conselho Regional de Fonoaudiologia, Cláudia Mara Graça, que trabalha no tratamento de alunos com dificuldade de aprendizado.
Doutor pela faculdade de educação da USP e coordenador da pesquisa "Alfabetização e leitura a partir da oralidade", Claudemir Belintane mostrou a professores da rede pública do Rio, em um seminário recente, o resultado do estudo feito durante um ano com 40 crianças de primeira a quarta série de escolas da periferia de São Paulo. Os alunos não alfabetizados ao longo dos quatro anos - "um número alto", nas palavras de Claudemir - apresentaram dificuldade de memorização e narração de histórias simples, como lendas e contos, "indicados para crianças de idade inferior".
- Nesse período, houve uma melhora da comunicação oral muito precária. São alunos mais predispostos à fala comunicativa do que a qualquer tipo de texto.
Ao contrário da fala, que é fragmentada, os textos apresentados aos alunos possuíam início, meio e fim, assim como rima, jogo de palavras, trocadilhos, brincadeiras e outros recursos estéticos, que os estudantes tinham dificuldade de assimilar, embora, normalmente, sejam memorizados junto com a apreensão da linguagem, a partir dos 2 anos.
- A oralidade não se fundamenta na conversa cotidiana. É produto do conjunto de histórias, lendas, advinhações e rimas infantis. São habilidades de linguagens que preparam as bases para a escrita - define o pesquisador.
Em nenhuma criança do grupo foi diagnosticado problema neurológico.
Muitas, porém, têm problemas familiares "sérios, que geraram questões psíquicas profundas", como abandono, falta de atenção e maus tratos.
- São crianças que não recebem a carga de linguagem dada a outras.
As pessoas se comunicam com elas no imperativo: se manda, sai fora, cala a boa etc explica. - As que desde cedo brincam com a palavra, ouvem cantigas de ninar, que têm um tratamento estético, conseguem desenvolver uma linguagem muito mais rica.
À medida que a criança se afasta da primeira série sem ser alfabetizada, se torna, proporcionalmente, mais reticente à escrita. Um agravante é a troca das fontes de cultura oral, antes as brincadeiras de roda e a família, pela mídia e a indústria fonográfica, por meio de programas de TV e DVDs nem sempre educativos. O método proposto por Claudemir aos professores para resgatar o interesse e melhorar a oralidade dos alunos é a brincadeira presencial.
- Empregamos uma estrutura de ensino que recomponha a deficiência em todas as aulas, até os 5 anos. As cantigas preparam as bases para o gosto pela palavra e pela leitura, as entrada da escrita - defende.
A presidente do Conselho Regional de Fonaudiologia, Cláudia Mara Graça, usa brincadeiras, jogos e cantigas de roda como recursos terapêuticos para tratar distúrbios de aprendizado, problemas de linguagem, leitura e escrita.
- As cantigas têm uma sequência musical associada a movimentos que estimulam a fala, a percepção auditiva e do corpo - ressalta Cláudia, que cita, entre outros, o Escravos de Jó, por causa da sequência de movimento, de regras de linguagem e estímulos à coordenação motora. - Os professores devem usar essas brincadeiras.
As histórias infantis e as cantigas de roda, inclusive o Atirei o pau no gato, fazem muito mais por uma criança do que apenas entreter
fonte: Jornal do Brasil (08.06.2009)
O desenvolvimento da fala, e consequentemente da interpretação e produção de textos, evoluem no compasso dos diálogos com os pais e das brincadeiras verbais da infância. É o que mostra uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) com crianças do ensino fundamental. O estudo é endossado pela presidente do Conselho Regional de Fonoaudiologia, Cláudia Mara Graça, que trabalha no tratamento de alunos com dificuldade de aprendizado.
Doutor pela faculdade de educação da USP e coordenador da pesquisa "Alfabetização e leitura a partir da oralidade", Claudemir Belintane mostrou a professores da rede pública do Rio, em um seminário recente, o resultado do estudo feito durante um ano com 40 crianças de primeira a quarta série de escolas da periferia de São Paulo. Os alunos não alfabetizados ao longo dos quatro anos - "um número alto", nas palavras de Claudemir - apresentaram dificuldade de memorização e narração de histórias simples, como lendas e contos, "indicados para crianças de idade inferior".
- Nesse período, houve uma melhora da comunicação oral muito precária. São alunos mais predispostos à fala comunicativa do que a qualquer tipo de texto.
Ao contrário da fala, que é fragmentada, os textos apresentados aos alunos possuíam início, meio e fim, assim como rima, jogo de palavras, trocadilhos, brincadeiras e outros recursos estéticos, que os estudantes tinham dificuldade de assimilar, embora, normalmente, sejam memorizados junto com a apreensão da linguagem, a partir dos 2 anos.
- A oralidade não se fundamenta na conversa cotidiana. É produto do conjunto de histórias, lendas, advinhações e rimas infantis. São habilidades de linguagens que preparam as bases para a escrita - define o pesquisador.
Em nenhuma criança do grupo foi diagnosticado problema neurológico.
Muitas, porém, têm problemas familiares "sérios, que geraram questões psíquicas profundas", como abandono, falta de atenção e maus tratos.
- São crianças que não recebem a carga de linguagem dada a outras.
As pessoas se comunicam com elas no imperativo: se manda, sai fora, cala a boa etc explica. - As que desde cedo brincam com a palavra, ouvem cantigas de ninar, que têm um tratamento estético, conseguem desenvolver uma linguagem muito mais rica.
À medida que a criança se afasta da primeira série sem ser alfabetizada, se torna, proporcionalmente, mais reticente à escrita. Um agravante é a troca das fontes de cultura oral, antes as brincadeiras de roda e a família, pela mídia e a indústria fonográfica, por meio de programas de TV e DVDs nem sempre educativos. O método proposto por Claudemir aos professores para resgatar o interesse e melhorar a oralidade dos alunos é a brincadeira presencial.
- Empregamos uma estrutura de ensino que recomponha a deficiência em todas as aulas, até os 5 anos. As cantigas preparam as bases para o gosto pela palavra e pela leitura, as entrada da escrita - defende.
A presidente do Conselho Regional de Fonaudiologia, Cláudia Mara Graça, usa brincadeiras, jogos e cantigas de roda como recursos terapêuticos para tratar distúrbios de aprendizado, problemas de linguagem, leitura e escrita.
- As cantigas têm uma sequência musical associada a movimentos que estimulam a fala, a percepção auditiva e do corpo - ressalta Cláudia, que cita, entre outros, o Escravos de Jó, por causa da sequência de movimento, de regras de linguagem e estímulos à coordenação motora. - Os professores devem usar essas brincadeiras.
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