FÁBULAS DE ESOPO |
O GALO E A PÉROLA ANDAVA O GAIO ESGRAVATANDO NO MONTURO, PARA ACHAR MIGALHAS, OU BICHOS, QUE COMER, E ACERTOU DE DESCOBRIR UMA PEDRA: DISSE ENTÃO: – O PEDRA PRECIOSA, AINDA QUE LUGAR SUJO, SE AGORA TE ACHARA UM DISCRETO LAPIDÁRIO, TE RECOLHERA; MAS A MIM NÃO ME PRESTAS; MAIS CASO FAÇO DE UMA MIGALHA, QUE BUSCO PARA MEU SUSTENTO, OU DOUS GRÃOS DE CEVADA. DITO ISTO, A DEIXOU, E FOI POR DIANTE ESGRAVATANDO PARA BUSCAR CONVENIENTE MANTIMENTO. |
O LOBO E O CORDEIRO ESTAVA BEBENDO UM LOBO ENCARNIÇADO EM UM RIBEIRO DE ÁGUA, E PELA PARTE DE BAIXO CHEGOU UM CORDEIRO TAMBÉM A BEBER. OLHOU O LOBO DE MAU ROSTO, E DISSE, REGANHANDO OS DENTES: – PORQUE TIVESTE TANTA OUSADIA DE ME TURVAR A ÁGUA ONDE ESTOU BEBENDO? RESPONDEU O CORDEIRO COM HUMILDADE: – A ÁGUA CORRE PARA MIM, PORTANTO NÃO POSSO EU TORVÁ-LA. TORNA O LOBO MAIS COLÉRICO A DIZER: – POR ISSO ME HÁS-DE PRAGUEJAR? SEIS MESES HAVERÁ QUE ME FEZ OUTRO TANTO TEU PAI. RESPONDEU O CORDEIRO: – NESSE TEMPO, SENHOR, AINDA EU NÃO ERA NASCIDO, NEM TENHO CULPA. – SIM TENS (REPLICOU O LOBO) QUE TODO O PASTO DE MEU CAMPO ESTRAGASTE. – MAL PODE SER ISSO, DISSE O CORDEIRO, PORQUE AINDA NÃO TENHO DENTES. O LOBO, SEM MAIS RAZÕES, SALTOU SOBRE ELE E LOGO O DEGOLOU, E O COMEU. |
O LOBO E AS OVELHAS HAVIA GUERRA TRAVADA ENTRE LOBOS E OVELHAS; E ELAS, AINDA QUE FRACAS, AJUDADAS DOS RAFEIROS, SEMPRE LEVAVAM O MELHOR. PEDIRAM OS LOBOS PAZ, COM CONDIÇÃO QUE DARIAM DE PENHOR SEUS FILHOS, E AS OVELHAS QUE TAMBÉM LHE ENTREGASSEM OS RAFEIROS. ASSENTADAS AS PAZES COM ESTAS CONDIÇÕES, OS FILHOS DOS LOBOS UIVAVAM RIJAMENTE. ACODEM OS PAIS, E TOMAM ISTO POR ACHAQUE DE SER A PAZ QUEBRADA; E TORNAM A RENOVAR A GUERRA. BEM QUISERAM DEFENDER-SE AS OVELHAS, MAS COMO SUA PRINCIPAL FORÇA CONSISTIA NOS RAFEIROS, QUE ENTREGARAM AOS LOBOS, FACILMENTE FORAM DELES VENCIDAS, E TODAS DEGOLADAS. |
O REI DOS BUGIOS E DOIS HOMENS CAMINHAVAM DOIS COMPANHEIROS, TENDO PERDIDO O CAMINHO, DEPOIS DE TEREM ANDADO MUITO, CHEGARAM À TERRA DOS BUGIOS. FORAM LOGO LOGO LEVADOS ANTE O REI, QUE VENDO-OS LHES DISSE: – NA VOSSA TERRA, E NESSA POR ONDE VINDES, QUE SE DISSE DE MIM, E DO MEU REINO? RESPONDEU UM DOS COMPANHEIROS: – DIZEM QUE SOIS REI GRANDE, DE GENTE SÁBIA, E LUSTROSA. O OUTRO, QUE ERA AMIGO DE FALAR VERDADE, RESPONDEU: – TODA VOSSA GENTE SÃO BUGIOS IRRACIONAIS, FORÇADO É QUE O REI TAMBÉM SEJA BUGIO. COMO ISTO OUVIU O REI, MANDOU QUE MATASSEM A ESTE, E AO PRIMEIRO FIZESSEM MIMOS, E O TRATASSEM MUITO BEM. |
A ANDORINHA E OUTRAS AVES SEMEAVAM OS HOMENS LINHO, E VENDO-OS A ANDORINHA DISSE AOS OUTROS PÁSSAROS: – POR NOSSO MAL FAZEM OS HOMENS ESTA SEARA, QUE DESTA SEMENTE NASCERÁ LINHO, E FARÃO DELE REDES E LAÇOS PARA NOS PRENDEREM. MELHOR SERÁ DESTRUIRMOS A LINHAÇA, E A ERVA, QUE DELA NASCER, PARA QUE ESTEJAMOS SEGURAS. RIRAM AS AVES DESTE CONSELHO E NÃO QUISERAM TOMÁ-LO. O QUE VENDO A ANDORINHA, FEZ PAZES COM OS HOMENS E SE FOI VIVER EM SUAS CASAS. ELES FIZERAM REDES, E INSTRUMENTOS DE CAÇA, COM QUE TOMARAM E PRENDERAM TODOS OS PÁSSAROS, TIRANDO SÓ A ANDORINHA, QUE FICOU PRIVILEGIADA. |
O RATO E A RÃ DESEJAVA UM RATO PASSAR UM RIO, E TEMIA, POR NÃO SABER NADAR. PEDIU AJUDA A UMA RÃ, A QUAL SE OFERECEU DE O PASSAR, SE SE ATASSE AO SEU PÉ. CONSENTIU O RATO, E TOMANDO UM FIO, SE ATOU PELO PÉ E NA OUTRA PONTA ATOU O PÉ DA RÃ. SALTARAM AMBOS NA ÁGUA, MAS A RÃ COM MALÍCIA TRABALHAVA POR SE MERGULHAR, POR QUE O RATO SE AFOGASSE. O RATO FAZIA POR SAIR PARA FORA, E AMBOS ANDAVAM NESTE TRABALHO E FADIGA. PASSAVA UM MILHANO POR CIMA E VENDO O RATO SOBRE A ÁGUA, SE ABATEU PER O LEVAR, E LEVOU JUNTAMENTE A RÃ, QUE ESTAVA ATADA COM ELE, NO AR OS COMEU AMBOS. |
O LADRÃO E O CÃO DE CASA QUERENDO UM LADRÃO ENTRAR EM UMA CASA DE NOITE PARA ROUBAR, ACHOU À PORTA UM CÃO, QUE COM LADRIDOS O IMPEDIA. O CAUTELOSO LADRÃO, PARA O APAZIGUAR, LHE LANÇOU UM PEDAÇO DE PÃO. MAS O CÃO DISSE: – BEM ENTENDO QUE ME DÁS ESTE PÃO POR QUE ME CALE, E TE DEIXE ROUBAR A CASA, NÃO POR AMOR QUE ME TENHAS: PORÉM JÁ QUE O DONO DA CASA ME SUSTENTA TODA A VIDA, NÃO DEIXAREI DE LADRAR, SE NÃO TE FORES, ATÉ QUE ELE ACORDE, E TE VENHA ESTORVAR. NÃO QUERO QUE ESTE BOCADO ME CUSTE MORRER DE FOME TODA A MINHA VIDA. |
O CÃO E A OVELHA DEMANDOU O CÃO À OVELHA CERTA QUANTIDADE DE PÃO, QUE DIZIA HAVER-LHE EMPRESTADO, OU DADO NA SUA MÃO EM DEPÓSITO. ELA NEGOU HAVÊ-LO RECEBIDO. DÁ O CÃO TRÊS TESTEMUNHAS, CONVÉM A SABER: UM LOBO, UM BUITRE E UM MILHANO, OS QUAIS TODOS JÁ VINHAM COM O CÃO SUBORNADOS, E APOSTADOS A JURAR EM SEU FAVOR, COMO COM EFEITO JURARAM, DIZENDO QUE ELES VIRAM RECEBER À OVELHA O PÃO, QUE SE LHE PEDIA. VENDO A PROVA, A CONDENOU O JUIZ A QUE PAGASSE; E COMO ELA NÃO TIVESSE POR ONDE, LHE FOI FORÇADO TOSQUIAR O PÊLO, E VENDÊ-LO ANTE TEMPO, DO QUE PAGOU O QUE NÃO COMERA, E FICOU NUA PADECENDO AS NEVES E FRIOS DO INVERNO. |
O CÃO E A CARNE LEVAVA UM CÃO NA BOCA UM PEDAÇO DE CARNE, PASSAVA COM ELA UM RIO, E VENDO NO FUNDO DA ÁGUA A SOMBRA DA CARNE MAIOR, SOLTOU A QUE LEVAVA NOS DENTES, POR TOMAR A QUE VIA DENTRO NA ÁGUA. PORÉM COMO O RIO LEVOU PARA BAIXO COM SUA CORRENTE A VERDADEIRA, LEVOU TAMBÉM A SOMBRA E FICOU O CÃO SEM UMA E SEM OUTRA. |
A MOSCA SOBRE A CARRETA SOBRE UM CARRO DE MULAS, CARREGADO, POUSOU UMA MOSCA, E ACHOU-SE TÃO ALTIVA DE IR A SEU GOSTO, ALTA, QUE COMEÇOU A FALAR SOBERBA CONTRA A MULA DIZENDO QUE ANDASSE DEPRESSA, SENÃO QUE A CASTIGARIA, PICANDO-A ONDE LHE DOESSE. VIROU A MULA O ROSTO DIZENDO: – CALA-TE, PARIA SEM VERGONHA, QUE NÃO TEMO NEM ME PODES FAZER NADA; O MEDO QUE ME CAUSA É DO CARRETEIRO, QUE LEVA NA MÃO O AÇOITE, QUE TU SÓ COM IMPORTUNAÇÕES CANSAS-ME, SEM ME FAZER OUTRO MAL. |
O CÃO E A IMAGEM BUSCANDO DE COMER, O CÃO ACERTOU DE ACHAR UMA IMAGEM DE HOMEM, MUITO PRIMOROSA, E BEM FEITA DE PAPELÃO COM CORES VIVAS. CHEGOU O CÃO A CHEIRAR POR VER SE ERA HOMEM QUE DORMIA. DEPOIS DEU-LHE COM O FOCINHO E VIU QUE SE REBOLAVA, E COMO NÃO QUISESSE ESTAR QUEDA, NEM TOMAR ASSENTO, DISSE O CÃO: – POR CERTO QUE A CABEÇA É LINDA, SENÃO QUE NÃO TEM MIOLO. |
O LEÃO, A VACA, A CABRA E A OVELHA FIZERAM PARCERIA UM LEÃO, UMA VACA, UMA CABRA E UMA OVELHA, PARA QUE CAÇASSEM DE MÃO COMUM E PARTISSEM O GANHO. CORRENDO SOBRE ESTE CONCERTO, ACHARAM UM VEADO, DEPOIS DE TEREM ANDADO E TRABALHADO MUITO, O MATARAM. CHEGARAM TODOS CANSADOS E COBIÇOSOS DA PRESA, E FIZERAM-NO EM QUATRO PARTES IGUAIS. O LEÃO TOMOU UMA, E DISSE: – ESTA É MINHA CONFORME AO CONCERTO; ESTOUTRA ME PERTENCE POR SER MAIS VALENTE DE TODOS; TAMBÉM TOMAREI A TERCEIRA, PORQUE SOU REI DE TODOS OS ANIMAIS, E QUEM NA QUARTA BULIR, TENHA-SE POR MEU DESAFIADO. ASSIM AS LEVOU TODAS, E OS PARCEIROS SE ACHARAM ENGANADOS, E COM AGRAVO, MAS SOFRERAM POR SEREM DESIGUAIS NA FORÇA AO LEÃO. |
O CASAMENTO DO SOL DIZEM QUE EM CERTO TEMPO DESEJOU O SOL DE SE CASAR, E TODAS AS GENTES, AGRAVADAS DISSO, SE FORAM QUEIXAR A JÚPITER, DIZENDO: – QUE NO ESTIO TRABALHOSAMENTE SOFRIAM UM SOL, QUE COM SEUS RAIOS OS ABRASAVA, DONDE INFERIAM E PROVAVAM, QUE SE O SOL CASASSE E VIESSE A TER FILHOS, QUEIMARIA O MUNDO TODO; PORQUE UM SOL FARIA VERÃO CALMOSO NA ÍNDIA, OUTRO EM GRÉCIA, OUTRO NA NORUEGA E TERRAS SETENTRIONAIS; PELO QUE SENDO TODAS AS TRÊS ZONAS TÓRRIDAS, NÃO TERIAM AS GENTES ONDE VIVER. VISTO ISTO POR JÚPITER, MANDOU QUE NÃO CASASSE. |
O HOMEM E A DONINHA UM HOMEM QUE CAÇAVA RATOS, PRENDEU NA ARMADILHA UMA DONINHA. ELA VENDO-SE EM SEU PODER, LHE DISSE QUE A SOLTASSE, E ALEGOU RAZÕES, DIZENDO: QUE ELA NENHUM MAL FAZIA, ANTES LHE ALIMPAVA A CASA DE RATOS E BICHOS, E SEMPRE, POR LHE FAZER BEM, OS ANDAVA MATANDO. RESPONDEU O HOMEM: – SE TU POR FAZER BEM O FIZERAS, DEVIA-TE EU AGRADECIMENTO, MAS COMO O FAZES PELO COMER, NÃO TE DEVO NADA, ANTES TE QUERO MATAR, QUE SE ELES TE FALTAREM, COMER-ME-ÁS O MEU, PIOR DO QUE O FAZEM OS MESMOS RATOS. |
A BUGIA E A RAPOSA ROGAVA A BUGIA À RAPOSA QUE CORTASSE A METADE DO SEU RABO E LHO DESSE, DIZENDO: – BEM VÊS QUE O TEU RABO ARROJA, E VARRE A TERRA, E É DEFEITO POR DEMASIADO; O QUE DELE SOBEJA ME PODES PRESTAR A MIM, E COBRIR-ME ESTAS PARTES, QUE VERGONHOSAMENTE TRAGO DESCOBERTAS. ANTES QUERO QUE ARROJE, (DISSE A RAPOSA) E VARRA O CHÃO, E ME SEJA PESADO, QUE APROVEITARES-TE TU DELE. POR ISSO NÃO LHO DAREI NEM QUERO QUE COISA MINHA TE PRESTE. E ASSIM FICOU SEM ELE A BUGIA. |
JUNO E O PAVÃO VEIO O PAVÃO A JUNO MUITO QUEIXOSO, DIZENDO, POR QUE RAZÃO O ROUXINOL HAVIA DE CANTAR MELHOR QUE ELE, E TER-LHE OUTRAS MUITAS VANTAGENS? DISSE JUNO, QUE NÃO SE AGASTASSE; QUE POR ISSO TINHA ELE AS PENAS FORMOSAS CHEIAS DE OLHOS, QUE PARECEM ESTRELAS. – ISSO É VENTO (REPLICOU O PAVÃO) MAIS TOMARA SABER CANTAR. JUNO RESPONDEU. NÃO PODES TER TUDO. O ROUXINOL TEM VOZ, A ÁGUIA FORÇA, O GAVIÃO LIGEIREZA, TU CONTENTA-TE COM TUA FORMOSURA. |
AS DUAS CADELAS TOMANDO A UMA CADELA AS DORES DE PARIR, E NÃO TENDO LUGAR DONDE PARISSE, ROGOU A OUTRA QUE LHE DESSE A SUA CAMA E POUSADA, QUE ERA EM UM PALHEIRO, E TANTO QUE PARISSE SE IRIA COM SEUS FILHOS. FÊ-LO A OUTRA COM DÓ DELA, E DEPOIS DE HAVER PARIDO, LHE DISSE QUE SE FOSSE EMBORA; PORÉM A BOA HÓSPEDA MOSTROU-LHE OS DENTES, E NÃO A QUIS DEIXAR ENTRAR, DIZENDO QUE ESTAVA DE POSSE, E QUE NÃO A LANÇARIAM DALI, SENÃO FOSSE POR GUERRA E AS DENTADAS. |
O HOMEM E A COBRA NA FORÇA DO CHUVOSO, E FRIO INVERNO ANDAVA UMA COBRA FRACA, E ENCOLHIDA, E UM HOMEM DE PIEDADE A RECOLHEU, AGASALHOU E ALIMENTOU ENQUANTO HOUVE FRIO. CHEGADO O VERÃO, COMEÇOU A COBRA A ESTENDER-SE, E DESENROSCAR-SE, PELO QUE ELE A QUIS LANÇAR FORA; MAS EIA LEVANTOU O PESCOÇO PARA O MORDER. O QUE VENDO O HOMEM, TOMOU UM PAU, ASSANHOU-SE A COBRA, E COMEÇARAM AMBOS A PELEJAR. DE QUE RESULTOU FICAR ELA MORTA, E ELE BEM MORDIDO. |
O ASNO E O LEÃO O ASNO SIMPLES E TORPE ENCONTROU-SE COM O LEÃO EM UM CAMINHO; E DE ALTIVO, E PRESUNÇOSO, SE ATREVEU A LHE FALAR, DIZENDO: – VADES EMBORA COMPANHEIRO. PAROU-SE O LEÃO VENDO ESTE DESATINO E OUSADIA; MAS TORNOU LOGO A PROSSEGUIR SEU CAMINHO, DIZENDO: – LEVE COUSA ME FORA MATAR E DESFAZER AGORA ESTE; PORÉM NÃO QUERO SUJAR MEUS DENTES, NEM AS FORTES UNHAS EM CARNE TÃO BESTIAL E FRACA. ASSIM PASSOU, SEM FAZER CASO DELE. |
O RATO CIDADÃO E MONTESINHO UM RATO QUE MORAVA NA CIDADE, ACERTANDO DE IR AO CAMPO, FOI CONVIDADO POR OUTRO, QUE LÁ MORAVA, E LEVANDO-O À SUA COVA, COMERAM AMBOS COUSAS DO CAMPO, ERVAS E RAÍZES. DISSE O CIDADÃO AO OUTRO: – POR CERTO, COMPADRE, TENHO DÓ DE TI, E DA POBREZA EM QUE VIVES. VEM COMIGO MORAR NA CIDADE, VERÁS A RIQUEZA, E A FARTURA QUE GOZAS. ACEITOU O RÚSTICO E VIERAM AMBOS A UMA CASA GRANDE E RICA, E ENTRADOS NA DESPENSA, ESTAVAM COMENDO BOAS COMIDAS E MUITAS, QUANDO DE SÚBITO ENTRA O DESPENSEIRO, E DOIS GATOS APÓS ELE. SAEM OS RATOS FUGINDO. O DE CASA ACHOU LOGO SEU BURACO, O DE FORA TREPOU PELA PAREDE DIZENDO: – FICAI VÓS EMBORA COM A VOSSA FARTURA; QUE EU MAIS QUERO COMER RAÍZES NO CAMPO SEM SOBRESSALTOS, ONDE NÃO HÁ GATO NEM RATOEIRA. E ASSIM DIZ O ADÁGIO: MAIS VALE MAGRO NO MATO, QUE GORDO NA BOCA DO GATO. |
A ÁGUIA E A RAPOSA TINHA A ÁGUIA FILHOS E PARA OS CEVAR LEVOU NAS UNHAS DOIS RAPOSINHOS TOMADOS DE UMA LOUSA. A MÃE, QUE O SOUBE, LHE FOI ROGAR QUE DESSE SEUS FILHOS. MAS A ÁGUIA LÁ DO ALTO ZOMBOU DOS ROGOS E DISSE QUE NÃO DEIXARIA DE LHOS COMER. A RAPOSA MAGOADA COMEÇOU LOGO A CERCAR A ÁRVORE, ONDE A ÁGUIA TINHA SEU NINHO DE MUITAS PALHAS, TOJOS, PAUS SECOS E ACENDALHAS DE TAL MANEIRA, QUE PONDO-LHE O FOGO, FEZ UMA FOGUEIRA MUITO GRANDE. VIU-SE A ÁGUIA ATRIBULADA DO FUMO, E LABAREDA, E DO RECEIO QUE ARDESSE A ÁRVORE TODA, LANÇOU-LHE OS FILHOS SEM LHE TOCAR, E QUASE FICOU CHAMUSCADA PELA INDÚSTRIA DA RAPOSA. |
O GALO E A RAPOSA FUGINDO AS GALINHAS COM SEU GALO DE UMA RAPOSA, SUBIRAM-SE EM UM PINHEIRO, E COMO A RAPOSA ALI NÃO PUDESSE FAZER-LHES MAL, QUIS USAR DE CAUTELA, E DISSE AO GALO: – BEM PODEIS DESCER-VOS SEGURAMENTE, QUE AGORA ACABOU-SE DE ASSENTAR PAZ UNIVERSAL ENTRE TODAS AS AVES E ANIMAIS; PORTANTO VINDE, FESTEJAREMOS ESTE DIA. ENTENDEU O GALO A MENTIRA; MAS COM DISSIMULAÇÃO RESPONDEU: – ESTAS NOVAS POR CERTO SÃO BOAS E ALEGRES, MAS VEJO ACOLÁ ASSOMAR TRÊS CÃES; DEIXEMO-LOS CHEGAR, TODOS JUNTOS FESTEJAREMOS. PORÉM A RAPOSA, SEM MAIS ESPERAR, ACOLHEU-SE DIZENDO: TEMO QUE O NÃO SAIBAM AINDA, E ME MATEM. ASSIM SE FOI E FICARAM AS GALINHAS SEGURAS. |
O BEZERRO E O LAVRADOR TINHA UM LAVRADOR UM BEZERRO, FORTE E MIMOSO E PÔ-LO NO JUGO, COM OUTRO BOI MANSO; MAS COMO O BEZERRO O NÃO QUISESSE TOMAR NEM SOFRER, COM PANCADAS E PEDRADAS, TRABALHAVA O LAVRADOR PER O AMANSAR. E DISSE AO BOI MANSO: – NÃO TE TOMO COM ESTE PARA QUE LAVRES, QUE AINDA NÃO É PARA ISSO, SENÃO PARA O AMANSAR DE PEQUENO, PORQUE DEPOIS QUE FOR TOURO MADRIGADO NÃO HAVERÁ QUEM O AMANSE. |
O LOBO E O CÃO ENCONTRANDO-SE UM LOBO E UM CÃO EM UM CAMINHO, DISSE O LOBO: INVEJA TENHO COMPANHEIRO, DE TE VER TÃO GORDO, COM O PESCOÇO GROSSO E CABELO LUZIDIO; EU SEMPRE ANDO MAGRO E ARREPIADO. RESPONDEU O CÃO: – SE TU FIZERES O QUE EU FAÇO, TAMBÉM ENGORDARÁS. ESTOU EM UMA CASA, ONDE ME QUEREM MUITO, DÃO-ME DE COMER, TRATAM-ME BEM; E EU TENHO CUIDADO SÓ DE LADRAR QUANDO SINTO LADRÕES DE NOITE. POR ISSO, SE QUERES, VEM COMIGO, TERÁS OUTRO TANTO? ACEITOU O LOBO, E COMEÇARAM A IR. MAS NO CAMINHO DISSE O LOBO: – DE QUE É ISSO COMPANHEIRO, QUE TE VEJO O PESCOÇO ESFOLADO? RESPONDEU O CÃO: – PORQUE NÃO MORDA DE DIA AOS QUE ENTRAM EM CASA, ESTOU PRESO COM UMA CORDA, DE NOITE ME SOLTAM ATÉ PELA MANHÃ, QUE TORNAM A PRENDER-ME. – NÃO QUERO TUA FARTURA; RESPONDEU O LOBO: A TROCO DE NÃO SER CATIVO, ANTES QUERO TRABALHAR, E JEJUAR LIVRE. E DIZENDO ISTO SE FOI. |
OS MEMBROS E O CORPO AS MÃOS E OS PÉS SE QUEIXAVAM DOS OUTROS MEMBROS, DIZENDO – QUE ELES TODA A VIDA TRABALHAVAM E TRAZIAM O CORPO ÀS COSTAS, E TUDO REDUNDAVA EM PROVEITO DO ESTÔMAGO QUE COMIA SEM TRABALHO; PORTANTO QUE SE DETERMINASSE A BUSCAR SUA VIDA, QUE ELES NÃO HAVIAM DE DAR-LHE DE COMER. POR MUITO QUE O ESTÔMAGO LHES ROGOU, NÃO QUISERAM TOMAR OUTRA DETERMINAÇÃO, E ASSIM COMEÇARAM A NEGAR-LHE A COMIDA: E ELE ENFRAQUECEU. MAS COMO JUNTAMENTE ENFRAQUECESSEM OS PÉS E MÃOS, TORNARAM DEPRESSA A QUERER ALIMENTÁ-LO; MAS COMO JÁ A FRAQUEZA FOSSE MUITA, NADA LHES VALEU, E MORRERAM TODOS JUNTAMENTE. |
A RAPOSA E O CORVO O CORVO APANHOU UM QUEIJO, E COM ELE FUGINDO, SE POISOU SOBRE UMA ÁRVORE. VIU-O A RAPOSA, E DESEJOU DE LHE COMER O SEU QUEIJO: E PONDO-SE AO PÉ DA ÁRVORE, COMEÇOU A DIZER AO CORVO: – POR CERTO QUE ÉS FORMOSO, E GENTIL-HOMEM, E POUCOS PÁSSAROS HÁ QUE TE GANHEM. TU ÉS BEM DISPOSTO E MUI GALANTE; SE ACERTARAS DE SABER CANTAR, NENHUMA AVE SE COMPARARÁ CONTIGO. SOBERBO O CORVO DESTES GABOS E DESEJANDO DE LHE PARECER BEM, LEVANTA O PESCOÇO PARA CANTAR; PORÉM ABRINDO A BOCA, CAIU-LHE O QUEIJO. A RAPOSA O TOMOU E FOI-SE, FICANDO O CORVO FAMINTO E CORRIDO DE SUA PRÓPRIA IGNORÂNCIA. |
O LEÃO E OS OUTROS ANIMAIS ESTAVA UM LEÃO DOENTE E FRACO DE VELHO, E VINDO UM PORCO-MONTÊS, QUE LHE LEMBROU SER MALTRATADO DELE NOUTRO TEMPO, DEU-LHE UMA FORTE TROMBADA, E PASSOU. VEIO UM TOURO E ESCORNOU-O, E OUTROS MUITOS ANIMAIS POR SE VINGAREM O MALTRATARAM. POR DERRADEIRA VEIO UM ASNO E DEU-LHE DOUS COUCES, COM QUE LHE DERRUBOU AS QUEIXADAS. CHORAVA O LEÃO, DIZENDO: – TEMPO SEI EU QUE TODOS ESTES SÓ DE MEU BRAMIDO TREMIAM E NENHUM HAVIA TÃO FORTE, QUE NÃO FUGISSE DE SE ENCONTRAR COMIGO, AGORA QUE ME VÊEM FRACO, TODOS QUEREM VINGAR-SE, E NÃO HÁ QUEM NÃO SE ME ATREVA. |
AS POMBAS E O FALCÃO VENDO-SE AS POMBAS PERSEGUIDAS DO MILHANO, QUE AS MALTRATAVA DE QUANDO EM QUANDO, E BUSCANDO COMO PODERIAM LIVRAR-SE, QUISERAM VALER-SE DO FALCÃO. TOMOU ESTE O CARGO DE AS DEFENDER; MAS COMEÇOU A TRATÁ-LAS MUITO PIOR, MATANDO-AS E COMENDO-AS SEM PIEDADE. VENDO-SE SEM REMÉDIO, DIZIAM: COM RAZÃO PADECEMOS, POIS NÃO NOS CONTENTANDO DO QUE TÍNHAMOS, SOUBEMOS TÃO MAL ESCOLHER COUSA QUE TANTO NOS IMPORTAVA. |
O GALGO VELHO E SEU AMO A UM GALGO VELHO, QUE HAVIA SIDO MUITO BOM, SE LHE FOI UMA LEBRE DENTRE OS DENTES, PORQUE QUASE JÁ OS NÃO TINHA. O AMO POR ISSO O AÇOITOU CRUELMENTE, E LANÇOU DE SI, COMO COUSA QUE NADA VALIA. DISSE O GALGO: – DEVES, SENHOR, LEMBRAR-TE COMO TE SERVI BEM ENQUANTO ERA MOÇO, QUANTAS LEBRES TOMEI, E QUANTO ME ESTIMAVAS: AGORA QUE SOU VELHO, E ESTOU POSTO NO OSSO, POR UMA QUE ME FUGIU, ME AÇOUTAS, E LANÇAS FORA, DEVENDO PERDOAR-ME E PAGAR-ME BEM O MUITO QUE TE TENHO SERVIDO. |
AS LEBRES E AS RÃS VENDO-SE AS LEBRES CORRIDAS DOS GALGOS E ESPANTADAS DE TODOS OS ANIMAIS, ASSENTARAM, POR NÃO PASSAR TANTO SOBRESSALTO, DE SE MATAREM AFOGADAS EM UM RIO; E QUERENDO DÁ-LO À EXECUÇÃO, COMO CORRESSEM COM ÍMPETO PARA SE ARREMESSAREM NA ÁGUA, CHEGANDO À BORDA DELA VIRAM GRANDE NÚMERO DE RÃS SALTAREM COM MEDO NA RIBEIRA. REPORTARAM-SE AS LEBRES UM POUCO, E MUDANDO O CONSELHO, DISSERAM: – POIS QUE VIVEM ESTAS RÃS, HAVENDO MEDO DE NÓS E DE TODOS OS QUE NO-LO CAUSAM, SOFRAMOS NÓS A VIDA, QUE JÁ HÁ OUTROS MAIS ACOSSADOS E MEDROSOS. |
O LOBO E O CABRITO UMA CABRA, INDO PASTAR AO CAMPO, DEIXOU O FILHO EM CASA E MANDOU-LHE QUE NÃO ABRISSE AO URSO, NEM LOBO, QUE ALI VIESSE, PORQUE MORRERIA. IDA ELA VEIO UM LOBO, E FINGINDO A VOZ DE CABRA, COMEÇOU A AFAGAR O CABRITO, DIZENDO – QUE LHE ABRISSE, QUE ERA SUA MÃE. OUVINDO ISTO O CABRITO, CHEGOU A PORTA E POR UMA FENDA OLHOU, E VIU O LOBO, E SEM OUTRA RESPOSTA VIROU AS COSTAS E RECOLHEU-SE EM CASA. O LOBO FOI-SE, E ELE FICOU SALVO. |
O CERVO, O LOBO E A OVELHA DEMANDAVA O CERVO À OVELHA FALSAMENTE CERTO TRIGO, QUE DIZIA HAVER-LHE EMPRESTADO. A OVELHA PUDERA NEGAR-LHO, MAS RECEOU, PORQUE ESTAVA UM LOBO, DE COMPANHIA COM O VEADO, E ASSIM COM DISSIMULAÇÃO LHE DISSE: – ROGO-TE POR TUA VIDA, QUE ESPERES ALGUNS DIAS, E ENTÃO AVERIGUAREMOS NOSSAS CONTAS, QUE EU TE PAGAREI QUANTO TE DEVER. FOI CONTENTE O CERVO. PORÉM TANTO QUE AMBOS SE ENCONTRARAM SEM O LOBO ESTAR PRESENTE, A OVELHA O DESENGANOU, QUE NEM LHE DEVIA TRIGO, NEM LHO DEVIA DE PAGAR. |
A CEGONHA E A RAPOSA SENDO AMIGAS A CEGONHA COM A RAPOSA, A RAPOSA A CONVIDOU UM DIA A JANTAR. CHEGADO O TEMPO, PREPAROU A RAPOSA ARDILOSA UMA COMIDA LÍQUIDA, MANJAR COMO PAPAS E A ESTENDEU POR UMA LOUSA, E IMPORTUNAVA A CEGONHA A QUE COMESSE. MAS COMO ELA PICAVA NA LOUSA, QUEBRAVA O BICO, E NADA TOMAVA NELE, COM QUE SE FOI FAMINTA PARA O NINHO. MAS POR SE VINGAR, CONVIDOU A RAPOSA OUTRA VEZ E LANÇOU O MANJAR EM UMA ALMOTOLIA, DONDE COMIA COM O BICO, E PESCOÇO COMPRIDO. E A RAPOSA NÃO PODENDO METER O FOCINHO, SE TORNOU PARA SUA CASA, CORRIDA E MORTA DE FOME. |
A GRALHA E OS PAVÕES FEZ-SE A GRALHA BIZARRA E LOUCA VESTINDO-SE DE PENAS DE PAVÕES, QUE PEDIU EMPRESTADAS E DESPREZANDO AS OUTRAS GRALHAS, ANDAVA COM OS PAVÕES DE MISTURA. PORÉM ELES LHE PEDIRAM AS SUAS PENAS, E COMEÇANDO A DEPENÁ-LA, TODOS LHE LEVAVAM PENAS E CARNE NO BICO. DEPOIS QUERENDO CHEGAR-SE ÀS OUTRAS, AINDA QUE COM TEMOR E VERGONHA, DIZIAM ELAS: QUANTO TE VALERA MAIS CONTENTARES-TE COM O QUE TE DEU A NATUREZA, QUE QUERERES MUDAR DE ESTADO; PARA VIRES A ESTE EM QUE ESTÁS, PELADA, FERIDA E VERGONHOSA. |
A FORMIGA E A MOSCA ENTRE A MOSCA E A FORMIGA, HOUVE GRANDE ALTERCAÇÃO SOBRE PONTOS DE HONRA. DIZIA A MOSCA: – EU SOU NOBRE, VIVO LIVRE, ANDO POR ONDE QUERO, COMO VIANDAS PRECIOSAS, E ASSENTO-ME À MESA COM O REI, E DOU BEIJOS NAS MAIS FORMOSAS DAMAS. TU MAL-AVENTURADA, SEMPRE ANDAS TRABALHANDO. RESPONDEU A FORMIGA: TU ÉS DOUDA OCIOSA. SE POUSAS UMA VEZ EM PRATO DE BOM MANJAR, MIL VEZES COMES SUJIDADES E IMUNDÍCIAS, ABORRECIDA DE TODOS; SE TE PÕES NO ROSTO DAS DAMAS OU À MESA COM O REI, NÃO É POR SUA VONTADE, SENÃO PORQUE TU ÉS ENFADONHA E IMPORTUNA. |
A RÃ E O TOURO ANDAVA UM GRANDE TOURO PASSEANDO AO LONGO DA ÁGUA, E VENDO-O A RÃ TÃO GRANDE, TOCADA DE INVEJA, COMEÇOU DE COMER, E INCHAR-SE COM VENTO, E PERGUNTAVA ÀS OUTRAS SE ERA JÁ TÃO GRANDE. RESPONDERAM ELAS QUE NÃO. TORNA A RÃ SEGUNDA VEZ, E PÕE MAIS FORÇA POR INCHAR; E DESENGANADA DO MUITO QUE LHE FALTAVA PARA IGUALAR O TOURO, TERCEIRA VEZ INCHOU TÃO RIJAMENTE, QUE VEIO A ARREBENTAR COM COBIÇA DE SER GRANDE. |
O CAVALO E O LEÃO VIU O LEÃO ANDAR COMENDO O CAVALO EM UM OUTEIRO, E CUIDANDO EM QUE MANEIRA FARIA QUE LHE ESPERASSE PARA O MATAR, CHEGOU-SE COM PALAVRAS AMIGAS, DIZENDO QUE ERA MÉDICO, SE QUERIA QUE O CURASSE. O CAVALO, QUE O CONHECEU E ENTENDEU, DISSE COM DISSIMULAÇÃO: – EM VERDADE, VENS, AMIGO A BOM TEMPO, QUE TENHO NESTE PÉ UM ESTREPE DE QUE ESTOU MALTRATADO. CHEGOU-SE O LEÃO A VER-LHE O PÉ; E O CAVALO O LEVANTOU E LHO ASSENTOU NAS QUEIXADAS, EM MODO QUE FICOU EMBARAÇADO; E TORNANDO EM SI, VENDO ERA IDO O CAVALO, DISSE: – POR CERTO QUE FEZ BEM EM ME FERIR E IR-SE, POIS EU QUERIA COMÊ-LO E NÃO CURÁ-LO. |
AS AVES E O MORCEGO HAVIA GUERRA TRAVADA ENTRE AS AVES E OUTROS ANIMAIS, QUE, COMO ERAM FORTES, ANDAVAM AS AVES MALTRATADAS E VENCIDAS. TEMEROSO DISTO, O MORCEGO PASSOU-SE DO BANDO CONTRÁRIO E VOAVA POR CIMA DOS ANIMAIS DE QUATRO PÉS, POSTO JÁ DE SUA PARTE. SOBREVEIO A ÁGUIA EM FAVOR DAS AVES, E ALCANÇARAM VITÓRIA. E TOMANDO O MORCEGO, EM CASTIGO DE TRAIÇÃO, LHE MANDARAM QUE ANDASSE SEMPRE PELADO E ÀS ESCURAS. |
O CAVALO E O ASNO INDO O CAVALO COM JAEZES RICOS DE SEDA E OURO DE MUITO PREÇO, ENCONTROU NO CAMINHO UM ASNO CARREGADO, E DISSE-LHE COM MUITA SOBERBA: –ANIMAL DESCOMEDIDO, PORQUE NÃO ME DÁS LUGAR; E TE DESVIAS PARA QUE EU PASSE? CALOU E SOFREU O POBRE ASNO. MAS DAÍ A POUCOS DIAS EMANQUECEU O CAVALO, E PUSERAM-NO DE ALBARDA PARA SERVIR. ACERTOU O ASNO DE O ACHAR CARREGADO DE ESTERCO, E DISSE-LHE: – QUE VAI, IRMÃO, ONDE ESTÁ VOSSA SOBERBA, PORQUE NÃO MANDAIS AGORA QUE ME ARREDE, COMO FAZIAS EM OUTRO TEMPO? |
AS ÁRVORES E A MACHADA UM MACHADO DE AÇO BEM FORJADO, FALTANDO-LHE O CABO, SEM ELE NÃO PODIA CORTAR. DISSERAM AS ÁRVORES AO ZAMBUJEIRO, QUE LHE DESSE O CABO. E COMO O MACHADO ESTEVE ENCAVADO, UM HOMEM COM ELE COMEÇOU A FAZER MADEIRA, E DESTRUIR O ARVOREDO. DISSE ENTÃO O SOBREIRO AO FREIXO: – NÓS TEMOS A CULPA, QUE DEMOS CABO AO MACHADO PARA NOSSO MAL; PORQUE A NÃO LHO DARMOS, SEGURAS PUDÉRAMOS ESTAR DELE. |
A RAPOSA E AS UVAS CHEGAVA A RAPOSA A UMA PARREIRA, VIU-A CARREGADA DE UVAS MADURAS E FORMOSAS, E COBIÇOU-AS. COMEÇOU A FAZER SUAS DILIGÊNCIAS PARA SUBIR, PORÉM COMO ESTAVAM ALTAS E ÍNGREME A SUBIDA, POR MUITO QUE FEZ, NÃO PÔDE TREPAR; PELO QUE DISSE: – ESTÃO UVAS EM AGRAÇO E BOTAR-ME-ÃO OS DENTES, NÃO QUERO COLHÊ-LAS VERDES, QUE TAMBÉM SOU POUCO AMIGA DELAS. E DITO ISTO SE FOI. |
O PASTOR E O LOBO FUGIU UM LOBO DE UM CAÇADOR QUE VINHA EM SEU SEGUIMENTO, E DIANTE DE UM PASTOR SE ESCONDEU EM UMAS MOUTAS, ROGANDO-LHE QUE SE O CAÇADOR LHE PERGUNTASSE, DISSESSE ERA IDO. FICOU O PASTOR DE O FAZER. E CHEGADO O CAÇADOR, PERGUNTANDO PELO LOBO, O PASTOR LHE DIZIA QUE ERA IDO, MAS COM A CABEÇA LHE ACENAVA PARA ONDE ESTAVA; NÃO ATENTOU O CAÇADOR NOS ACENOS, E FOI-SE. SAIU O LOBO E DISSE-LHE O PASTOR: – QUE VAI AMIGO, MUITO ME DEVES, BOM VALEDOR TIVESTE EM MIM. VALEU-ME A MIM MINHA VENTURA, (RESPONDEU O LOBO) E NÃO TE ENTENDER O CAÇADOR, PELO QUE NADA TE DEVO, ANTES SE BENDIGO A TUA LÍNGUA, AMALDIÇOO A TUA CABEÇA, QUE TANTO FEZ POR ME DESCOBRIR. |
O ASNO E A CACHORRINHA VENDO O ASNO QUE SEU AMO BRINCAVA COM UMA CACHORRINHA, E SE ALEGRAVA COM ELA, E A TINHA À MESA, DANDO-LHE DE COMER, PORQUE O AFAGAVA VINDO DE FORA E SALTAVA NELE, CREIO QUE SE O OUTRO TANTO LHE FIZESSE, TAMBÉM SERIA ESTIMADO; E COM ESSA INVEJA SE VAI AO SENHOR EM ENTRANDO DE FORA E PONDO-LHE AS MÃOS SOBRE OS OMBROS, COMEÇOU A LAMBER-LHE O ROSTO COM A LÍNGUA. ESPANTADO O AMO, BRADA, E ACODEM OS CRIADOS E A PODER DE MUITAS PANCADAS TORNARAM A METER O ASNO EM SUA ESTREBARIA. |
O LEÃO E O RATO ESTANDO O LEÃO DORMINDO, ANDAVAM UNS RATOS BRINCANDO AO REDOR DELE, E SALTANDO-LHE POR CIMA, O ACORDARAM. TOMOU ELE UM ENTRE AS MÃOS, E ESTAVA PARA O MATAR, MAS PELO TER EM POUCO, E PELOS MUITOS ROGOS, COM QUE LHE PEDIA, O SOLTOU. SUCEDEU DAÍ A POUCO TEMPO CAIR O LEÃO EM UMA REDE, ONDE FICOU LIADO, SEM PODER VALER-SE DE SUAS FORÇAS. E SABENDO-O O RATO, TAL DILIGÊNCIA PÔS, QUE ROEU BREVEMENTE OS LAÇOS E CORDÉIS, E SOLTOU O LEÃO, QUE SE FOI LIVRE, EM PAGA DA BOA OBRA QUE LHE FEZ. |
O PORCO E O LOBO ESTAVA UMA PORCA COM DORES DE PARIR, E UM FAMINTO LOBO SE CHEGOU A ELA, DIZENDO QUE ERA SEU AMIGO, E TINHA DÓ DE A VER DESAMPARADA, QUE QUERIA SERVIR-LHE DE PARTEIRA. BEM ENTENDEU A PORCA QUE VINHA ELE POR LHE COMER OS FILHOS; E DISSIMULANDO DISSE: QUE NÃO PARIRIA ENQUANTO ELE ALI ESTIVESSE, QUE ERA MUI VERGONHOSA, E QUE SE PEJAVA DELE, QUE ERA SEU AFILHADO; PORTANTO, QUE SE FOSSE E A DEIXASSE PARIR, E QUE DEPOIS TOMARIA. FÊ-LO O LOBO ASSIM, MAS EM SE DESVIANDO DALI, A PORCA TAMBÉM SE FOI BUSCAR UM LUGAR SEGURO EM QUE PARIR. |
O VELHO E A MOSCA REPOUSAVA À SOALHEIRA UM VELHO CALVO, COM A CABEÇA DESCOBERTA, E UMA MOSCA NÃO FAZIA SENÃO PICAR-LHE NA CALVA. ACUDIA LOGO O VELHO COM A MÃO, E COMO ELA FUGISSE MUI DEPRESSA, DAVA EM SI MESMO GRANDES PALMADAS, DE QUE A MOSCA GOSTAVA E SE RIA. DISSE O VELHO: RIDE-VOS, EMBORA, DE QUANTAS VEZES EU DER EM MIM; QUE ISSO NÃO ME MATA, MAS SE UMA SÓ VEZ VOS ACERTA, FICAREIS MORTA, E PAGAREIS O NOVO E O VELHO. |
O CORDEIRO E O LOBO ANDAVA UM CORDEIRO ENTRE AS CABRAS E CHEGOU O LOBO, DIZENDO-LHE: – NÃO É ESTE O TEU REBANHO, VEM COMIGO, LEVAR-TE-EI A TUA MÃE. RESPONDEU O CORDEIRO: – NÃO QUERO; PORQUE ESTA CABRA ME QUER MUITO, E ME FAZ MAIS MIMO QUE A SEU PRÓPRIO FILHO. CONTUDO (REPLICOU O LOBO) MELHOR ESTARÁS COM TUA MÃE. BEM ESTOU AQUI (DISSE O CORDEIRO) NÃO QUERO PROVAR VENTURA, QUE POR BEM QUE ME SUCEDA, NÃO DEIXARÁ O PASTOR DE ME TIRAR O VELHO, E FICAREI MORRENDO DE FRIO. |
O HOMEM POBRE E A COBRA UM HOMEM POBRE COSTUMAVA AFAGAR E DAR DE COMER A UMA COBRA, QUE EM SUA CASA TRAZIA; E ENQUANTO ASSIM O FEZ, TUDO LHE IA POR DIANTE. DEPOIS, POR CERTA AGASTADURA, FEZ-LHE UMA GRANDE FERIDA. E VENDO QUE TOMAVA A EMPOBRECER, COM MUITAS PALAVRAS E HUMILDADE LHE PEDIU PERDÃO. RESPONDEU A COBRA: – EU DE BOAMENTE TE PERDOO, MAS NÃO TE HÁ-DE ISTO PRESTAR PARA DEIXARES DE SER POBRE; QUE ESTA FERIDA SEMPRE ME HÁ-DE DOER, E SEMPRE HÁ-DE ESTAR PEDINDO VINGANÇA DE TI. |
A FORMIGA E A CIGARRA NO INVERNO TIRAVA A FORMIGA DA SUA COVA É ASSOALHAR O TRIGO, QUE NELA TINHA, E A CIGARRA COM AS MÃOS POSTAS LHE PEDIA QUE’ REPARTISSE COM ELA, QUE MORRIA À FOME. PERGUNTOU-LHE A FORMIGA: QUE FIZERA NO ESTIO, PORQUE NÃO GUARDARA PARA SE MANTER? RESPONDEU A CIGARRA: – O VERÃO E ESTIO, GASTEI A CANTAR E PASSATEMPOS PELOS CAMPOS. A FORMIGA ENTÃO, PERSEVERANDO EM RECOLHER SEU TRIGO, LHE DISSE: – AMIGA, POIS OS SEIS MESES DE VERÃO GASTASTE EM CANTAR, BAILAR É COMIDA SABOROSA E DE GOSTO. |
O BOI E O VEADO POR FUGIR O VEADO DE UM CAÇADOR, SE ACOLHEU À VILA, E ENTRANDO MEDROSO EM UMA ESTREBARIA, ACHOU O BOI, A QUEM PERGUNTOU – SE PODIA ESCONDER-SE ALI. DISSE O BOI, QUE ERA MUITO CERTO O MORRER E QUE ANTES DEVERA TORNAR-SE AO MATO, E CONTUDO O ESCONDEU, E O COBRIU DE PALHA. VEIO O DONO DA ESTREBARIA E OLHANDO POR ELE, VIU AS PONTAS DO VEADO. FOI DESCOBRI-LO, E ACHOU O QUE ERA. MAS DISSE-LHE: JÁ QUE DE TUA VONTADE VIESTE À MINHA CASA, NÃO TE QUERO MATAR, SENÃO DEFENDER E FAZER MUITOS MIMOS. |
O HOMEM E O LEÃO ANDANDO O LEÃO À CAÇA, METEU UM ESTREPE NO PÉ, COM QUE NÃO PODIA BULIR-SE. ENCONTROU UM HOMEM E MOSTROU-LHE PARA QUE LHO TIRASSE. FÊ-LO ASSIM O HOMEM, E O LEÃO EM PAGA PARTIU DA CAÇA COM ELE. DALI A MUITO TEMPO FOI TOMADO ESTE LEÃO PARA CERTAS FESTAS E NELAS SE LANÇAVAM HOMENS PARA QUE OS MATASSEM. ENTRE ELES LHE LANÇARAM ESTE QUE O CUROU, QUE ESTAVA PRESO POR ALGUMAS CULPAS. PORÉM O LEÃO NÃO SÓ O NÃO MATOU, ANTES SE PÔS EM SUA GUARDA, E O ACOMPANHOU TODA A VIDA, CAÇANDO PARA ELE. |
O LOBO E A RAPOSA O LOBO SE APARELHOU E PROVEU SUA COVA MUITO BEM DE MANTIMENTO. A RAPOSA CHEGOU E DISSE, QUE OBRIGADA DE AMOR ANDAVA ATRÁS DELE, POR VÊ-LO E SERVI-LO. NÃO QUERO O TEU SERVIÇO, (DISSE O LOBO) QUE TUA INTENÇÃO NÃO É SENÃO ROUBAR-ME E COMERES-ME O QUE EU TENHO. VENDO-SE A RAPOSA ALCANÇADA, BUSCOU QUEM MATASSE O LOBO, E METEU-SE DE POSSE DA SUA COVA, E DE QUANTO ESTAVA NELA, MAS SOBREVINDO UNS CAÇADORES, FOI ACHADA DOS CÃES E FEITA EM PEDAÇOS. |
A PULGA E O CAMELO PÔS-SE UMA PULGA SOBRE UM CAMELO CARREGADO, E DEIXOU-SE IR SOBRE A CARGA UMA JORNADA, NO FIM DA QUAL SALTOU ABAIXO, E SACUDINDO-SE, DISSE: –FOLGO EM VERDADE DE ME DESCER: PORQUE TINHA DÓ DE TI; AGORA IRÁS LEVE COM POUCA CARGA. O CAMELO SE RIU DESTE CUMPRIMENTO E RESPONDEU: – NUNCA TE SENTI SE TE LEVAVA EM CIMA, NEM TU PODES CARREGAR-ME NEM ALIVIAR-ME; QUE NÃO TENS PESO PARA ISSO. A CARGA QUE EU LEVO, ESSA SINTO. TU NÃO TENS PESO PARA TE SENTIREM. |
O CERVO E O CAVALO PELEJARAM ALGUMAS VEZES SOBRE O PASTO, O CERVO E O BOM DO CAVALO, E PORQUE O VEADO COM OS CORNOS FEZ SEMPRE FUGIR O CAVALO, FOI-SE A UM HOMEM E DISSE-LHE: – PÕE-ME UM FREIO, UMA SELA E SOBE SOBRE MIM, E MATARÁS UM VEADO QUE AQUI ANDA. FÊ-LO O HOMEM ASSIM. E MORTO O VEADO, QUIS O CAVALO QUE SE APEASSE; MAS O HOMEM ACOLHEU-SE À POSSE E O CAVALO FICOU SEMPRE SUJEITO AO FREIO E SELA, E A ANDAR DEBAIXO. |
A RAPOSA E O LEÃO FINGINDO-SE O LEÃO ENFERMO, VISITAVAM-NO OS OUTROS ANIMAIS; E DE QUANTOS ENTRAVAM NA COVA, NENHUM DEIXAVA SAIR. ELES OBEDECIAM COMO A REI, MAS O LEÃO A UM E UM OS COMIA TODOS. POR DERRADEIRO CHEGOU A RAPOSA À PORTA DA COVA E PERGUNTOU-LHE: – COMO ESTAVA? RESPONDEU O LEÃO, – PORQUE NÃO ENTRAVA A VÊ-LO? RESPONDEU A RAPOSA – QUE NÃO ERA NECESSÁRIO, QUE DEVIA ESTAR A CASA CHEIA DE GENTE; QUE ELA VIA MUITAS PEGADAS DOS QUE ENTRAVAM, E NENHUMA DE QUE SAÍSSEM PARA FORA. |
A PANELA DE BARRO E A DE COBRE UMA CORRENTE DE ÁGUA LEVAVA DUAS PANELAS, UMA ERA DE COBRE, OUTRA DE BARRO, E CADA UMA IA POR SUA BANDA. DISSE A DE COBRE À OUTRA: CADA UMA DE NÓS SÓ NÃO TEM FORÇA PARA FAZER RESISTÊNCIA À ÁGUA, MAS CHEGA-TE A MIM, E AMBAS PODEREMOS RESISTIR-LHE. NÃO QUERO, (DISSE A DE BARRO) NEM ME VEM BEM, PORQUE SE NA ÁGUA TU ME DERES UMA TOPADA, OU TA DER A TI, DE QUALQUER MANEIRA TU FICARÁS SÃ, E EU FAR-ME-EI EM PEDAÇOS. |
O CÃO E O SEU DONO UM CÃO DE UM HORTELÃO CHEGOU AO POÇO, E COMO EM BAIXO VIU SUA FIGURA, COMEÇOU A AFEIÇOÁ-LA; E TANTO FEZ, E BULIU, QUE CAIU NO POÇO. ANDAVA O CÃO MEIO AFOGADO, E O HORTELÃO COM DÓ DELE DESCEU ABAIXO JUNTO DA ÁGUA, PARA O TIRAR, E COMO LHE PEGASSE, O CÃO LHE METEU OS DENTES NO BRAÇO, E O ATRAVESSOU: O HORTELÃO O LARGOU COM A DOR, E O CÃO DAÍ A POUCO AFOGOU-SE. |
AS DUAS RÃS DUAS RÃS, QUE SE ACHAVAM EM UM CHARCO, SECANDO-SE ESTE COM O CALOR DO VERÃO, FORAM EM BUSCA DE OUTRO, E ACHANDO NO CAMINHO UM POÇO, DISSE UMA: PARECE-ME QUE ENTREMOS PARA ELE. RESPONDEU-LHE A OUTRA COM MAIS ACERTO: POR NENHUM MODO FAREI TAL; PORQUE SECANDO-SE ESTA ÁGUA, COMO A OUTRA, NÃO PODEREMOS SAIR. É OFICIO DO SÁBIO PREVER E EVITAR OS FUTUROS DANOS. |
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